[OPINIÃO] O Estado da nação ESC


Não sou muito de escrever artigos de opinião, sou mais de notícias e factos, mas desta vez “saltou-me a tampa” e decidi escrever algumas linhas soltas…

A notícia de que Portugal não participa na Eurovisão 2013 veio confirmar os rumores que circulam nos “corredores” da estação pública há vários meses e põe a nu aquilo que é obvio para muitos: o produto “Eurovisão” está em Portugal tal e qual está o próprio país - moribundo, sem estratégia, sem rumo, sempre fruto do desenrascanço tão lusitano, sem planeamento, sem parcerias, sem profissionalismo, sem rigor, sem aprumo, sem garra, sem luta, sem objetivos, com um deslumbre provinciano, parolo até. Agora que a Troika decidiu pôr um ponto final no regabofe, eis que todos põem mãos à cabeça e se lembram que, se temos de cortar na despesa, é porque essa mesma despesa nunca devia ter sido feita! E isto porque tratamos estes e outros tantos assuntos como “despesa” e não como “investimento”, porque nunca queremos olhar para o que realmente devia ser importante: estratégia, planeamento, liderança, motivação, objetivos e… resultados!

Há anos que odeio estas frases: “O importante é participar”, “Chegarmos à Eurovisão já é uma vitória”; “O nosso objetivo é passar à final… com isso já ficamos satisfeitos”; “Tivemos uma participação digna e que nos orgulha mesmo ficando mal classificados”… Meus senhores: A Eurovisão é um concurso carago! Alguém joga num concurso apenas para participar?! Já escrevi muitas vezes sobre isto, estou apenas a bater no ceguinho…

Muitos daqueles que agora choram lágrimas de crocodilo, são os mesmos que, de forma amadora, fizeram com que fosse muito fácil à RTP dizer simplesmente que não participa na Eurovisão 2013 e nada acontecer a seguir. Falo de produtores, decisores técnicos e políticos, e até de artistas e pretensos autores. Noutros países, isso seria motivo de plenário parlamentar. Recordo-me quando a nossa vizinha Espanha decidiu, através da TVE, levar um comediante para a representar na Eurovisão, o Presidente dessa estação de televisão foi chamado à perna ao Parlamento. Portugal levou do mais puro amadorismo ao longo de anos e anos (com algumas poucas exceções) e nunca isso foi assunto de debate ao mais alto nível. Pelo contrário: somos sempre o parente pobre do ESC, o país simpático mas nunca decisivo, sempre a remar contra a maré e, com isso, a ficar anos após anos nos últimos lugares e nunca esse facto ter sido, depois, motivo de balanço, de mudança de rumo. Estranho alguém concorrer sempre a um concurso, ficar sempre nos últimos lugares, levar porrada e continuar a bater na mesma tecla com um sorriso nos lábios. Seremos sádicos?

Basta lermos os comentários publicados pelos portugueses nos sites e redes sociais para tirarmos mais algumas conclusões interessantes: enquanto nos sites ligados à Eurovisão, maioritariamente lidos por fãs do evento, os comentários são contra a decisão da RTP, nos sites de informação generalistas lidos pela população em geral, os comentários são a favor, de aplauso até.

Não posso deixar de comparar a situação portuguesa com a dos gregos. A Grécia continua a participar no ESC, com objetivos arrojados e a lutar sempre pela vitória. Lá a indústria musical participa ativamente na seleção nacional, pagando a participação da ERT no ESC. Pergunto: mas em Portugal há indústria musical? Infelizmente, não há! Os artistas que têm trabalho fazem-no por conta própria.

Antes de terminar que já se faz tarde, escrevo umas últimas linhas sobre o comunicado da RTP. Depois de toda a gente saber que o ESC foi limpo da programação por motivos financeiros e de falta de estratégia política, eis que a estação pública anuncia uma grande novidade: a RTP anuncia que em 2013 vai “realizar um evento que permita concretizar o lançamento de novos valores que possam ser os principais intérpretes da indústria musical portuguesa do futuro” (sic). Fico contente porque, de facto, o Dénis Filipe, a Vânia Fernandes, a Filipa Azevedo, a Daniela Varela, a Sofia Vitória, a Sofia Barbosa… muito devem aos programas de lançamento de novos valores da nossa RTP. Acham mesmo?!?

Outra linha desse comunicado: esse novo programa vai trazer “de novo dignidade à participação de intérpretes e compositores nacionais” pois “há que optar por aqueles que tragam maior dignidade, sendo, simultaneamente mais abrangentes” (sic). Ora, a RTP chegou à conclusão que a Eurovisão é menos digna quase 50 anos depois de participar no ESC? E o que fez para alterar a falta de dignidade? Por fim, que propostas fez nas reuniões anuais com a organização do ESC?

Por: Nelson Costa

14 comentários:

  1. Gostei. Disseste exatamente o que eu penso

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  2. Continuo a dizer o mesmo: A RTP é e sempre foi incompetente e irresponsável. Nunca prestou serviço público. Sempre esteve e continua ao serviço duma quadrilha. É uma mentira! Uma fraude! É tão séria como ministro que tem! Mais farinha do mesmo saco! Há mais ladrões na RTP e à sua volta que em todas as cadeias do País, quiçá do mundo!

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  3. Eu sou fã do ESC e concordo em absoluto com a RTP. Considero que o ESC foi até há uns anos um programa interessante para o canal público e para os portugueses, mas nos últimos bons anos o ESC tornou-se um programa de nicho, apenas para os fãs como nós.

    Somos o país do “porreiro pá” e do povo pacífico e afável, mas para os negócios é necessário punho de ferro e uma agressividade que nada tem a ver connosco. Portugal tem jeito para a arte e poesia mas não para os negócios, quer económicos, quer os de backstage ou de interesses.

    Se acham que um concurso gigantesco como o ESC não cede a pressões e a interesses dos nomes sonantes Europeus, então meus amigos existe aí alguma ignorância. Portugal nunca se quis misturar nessas coisas (lá está, não tem jeito) e como tal hoje em dia a sua irrelevância é evidente. Portugal não se impõe para não “gerar mau ambiente”.

    Depois dão-me arrepios quando leio coisas como “Portugal não se pode queixar se não dele mesmo, porque países ocidentais como a Alemanha, Finlândia e Suécia ganharam recentemente o certame”. Mas alguém lê o que escreve? Mas não reparam que países estão a falar? São somente dos países com maior influência e poder económico Europeu. Quem é o pequeno Portugal ao pé desses nomes? As carteiras são claramente diferentes.

    Os meandros eurovisivos são altamente permeáveis a politicas, jogos de interesse, votos entre vizinhos, e tudo aquilo que sabemos do ESC, e Portugal não tem armas para jogar esse jogo de igual para igual.

    Enquanto na era mais antiga os jogos de interesse eram mais descarados, hoje em dia o que reina são assuntos diferentes ... entre os quais o gosto e cultura do leste.

    Desde a entrada massiva desses países que os géneros musicais no ESC tenderam a mudar. Começamos a ter mais canções pop sem qualidade nenhuma de consumo imediato sem qualquer estrutura e o que interessa são os brilhos e os cabelos.

    Portugal nunca gostou disso. Não somos um país onde esse tipo de música faz sucesso. E para ser sincero é algo que me orgulho muito. Como tal e ao contrário de todos os outros países ocidentais que se modificaram para agradar ao público do leste, nós mantivemo-nos fieis. Não porque somos teimosos mas porque simplesmente não gostamos do artificialismo musical.

    Alexander Rybak que tanto sucesso fez por essa europa fora, em Portugal nem sequer foi falado. Nunca iria fazer sucesso cá, porque simplesmente não funciona para os nossos gostos.

    Por isto tudo é fácil criticar a RTP pela falta de empenho, mas a realidade é que a RTP foi a estação que nos fez sonhar, chorar e vibrar ano após ano no ESC durante quase 50 anos. Lutando sempre contra uma maré que era quase impossível de transpor. A actual falta de dinheiro só veio demonstrar esta fragilidade e já não temos como lutar. A RTP deixou há muitos anos de apostar em força e pode ser criticada por isso? A RTP e todos nós, já nos apercebemos há muito que o formato eurovisivo não é interessante para um país como o nosso e em nada dignifica os nossos artistas.

    Não concordo com o Nelson porque considero que o Festival da Eurovisão não é desde há alguns anos um concurso apelativo a uma boa aposta de investimento porque dali não saem as novas estrelas europeias ou mundiais da música. Aliás é o oposto, os artistas com nome não querem lá ir porque sabem que o concurso não vai dignificar as suas carreiras. Isso diz tudo.

    Estou feliz com a decisão da RTP. Até haver alterações profundas na forma como o ESC é gerido penso que Portugal deve ficar de fora. Modificações essas que acho que não estão para breve porque cada vez mais o concurso se centra no show e não nas canções.

    Se um dia voltarmos que seja com dignidade e não só com a vontade de ganhar, mas especialmente, sabendo que temos a possibilidade de lutar de igual para igual. Porque se é mau participar sem motivação para ganhar, pior mesmo é participar mesmo sabendo que nunca iremos ganhar.

    Foi a decisão mais acertada pela RTP. Bravo e obrigado por tudo. Até para o ano.

    Tenho dito,
    Tiago Varela

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  4. Concordo e subscrevo: “Eurovisão” está em Portugal tal e qual está o próprio país - moribundo, sem estratégia

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  5. Tiago Varela: "Até para o ano"? mas com todos esses teus argumentos, o que achas que vai mudar de um ano para o outro?

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  6. Tiago, não entendo como é que um fan pode concordar com esta medida da RTP

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  7. Boa tarde a tod@s !

    Parabéns por este texto, que me leva a tecer algumas considerações:

    1- De facto o festival deve ser abrangente, para fans e não fans (nos últimos anos temos visto pontuaslmente algumas participações com qualidade) mas muitas canções concorrentes parecem tiradas de baús de discos de vinil dos anos 70 - estamos em 2013, note-se;

    2- Há uma associação, denominada de OGAE pelos vistos, da qual a RTP não fala, sendo esses fans do evento: porque será?

    3- Os resultados de Portugal no concurso internacional são uma lástima: a RTP fez algo para mudar isso?

    4- quando foram os "homens da luta" o povo aplaudiu, muitos fans criticaram e foram contra essa representação: mas quantos são os fans em portugal? 50000 ou uma dúzia a tomar café num sítio e a apoiar a emissão do festival?

    Quanto se gastou nestes anos todos de participação internacional? Quanto se lucrou?

    Uma coisa é certa: este ano de 2013 Portugal não vai ser visto pelos outros países no certame:

    quem não é visto não é lembrado!

    Será que o festival realizado pela SIC ou TVI teria mais audiências?

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  8. 19:00

    Até para o ano porque não sei se Portugal estará ou não no ESC no ano que vem, não sou da RTP, apesar de pessoalmente achar que não devemos concorrer. Cá estaremos para comentar a decisão de então.

    19:05

    Porque como disse acho que estávamos a concorrer sem motivação, sem empenho porque todos sabemos que actualmente Portugal não luta de igual para igual (e mais recentemente, porque não tinha dinheiro).

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  9. anónimo das 19.11: o festival em Portugal teria mais audiencias de certeza na TVI ou na SIC pq ambos os canais têm atualmente tres ou qiatro vezes mais espetadores q a RTP1. Mas saber se teriamos um melhor lugar no ESC... essa é que é a questão. Porque não é a RTP, SIC ou TVI que fazem canções!!! São os autores e músicos que, por acaso, são os mesmos. Deviam era perguntar a esses musicos e autores o que é que andaram a mandar pro ESC estes anos todos!! A RTP tem as costas largas mas a culpa não é dela, pq ela não faz musica

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  10. Até fiquei emocionado a ler este artigo. É totalmente verdade. É triste verdade. Faltou dizer uma coisa: o Festival RTP da Canção era ha anos a coisa mais retrograda e antiquada e só mesmo os fans do ESC para lhe dar algum valor. Ha muitos anos que os programas da SIC e TVI, a essa hora, tinham mais audiencia e ninguem pegava depois nas canções de tao mal produzidas e antiquadas que eram.

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  11. Tiago Varela, por amor da Santa, não diga disparates.
    "Começamos a ter mais canções pop sem qualidade nenhuma de consumo imediato sem qualquer estrutura e o que interessa são os brilhos e os cabelos.
    Portugal nunca gostou disso. Não somos um país onde esse tipo de música faz sucesso. E para ser sincero é algo que me orgulho muito." !!! Ridículo.
    Os nosso gostos musicais são iguais aos de muitos países, a nossa industria musical é que é fraca. "Euphoria" faria muito sucesso cá se fosse devidamente divulgada.
    A RTP tem é que mudar de postura, até la, até agradeço que fique de fora do concurso

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  12. um grande artigo, mto bem escrito e a pôr os pontos nos i.

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  13. Vejo que este texto está aqui ha muito tempo mas só hoje é que o vi e li. Partilho estas ideias e não diria melhor! Portugal é o país do desenrascanço e o festival da Canção foi sempre fruto disso, pelo menos nos últimos anos. Amadorismo, desenrascanço e trabalho em cima dos joelhos, nunca tendo como objetivo os resultados. Mas muita da culpa pertence também aos fans que raramente criticam, comem o que lhes dá e tanto aplaudem a canção amadora da Filipa Sousa com a outra canção amadora dos Flor-de-Lis. Canção e apresentação em palco, acrescento.

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  14. Não me lembrava deste artigo. E realmente 3 anos depois continua super actual

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