[OPINIÃO] Que 2016 seja o nosso ano, pois 2015 não o foi!


Portugal na Eurovisão 2015 deixa-me um sabor agridoce: por um lado, Leonor Andrade passou a fazer parte da história de Portugal na Eurovisão e isso, para mim, simboliza juventude, ambição, boa voz, presença, luta e, o que mais interessa, um cantar bem com força e garra. Quero guardar a Leonor Andrade no canto mais bonito das lembranças desta Eurovisão. Mas, por outro, 2015 foi um ano perdido: o transformar uma boa canção em esquecível, o ano da promoção zero, do nada fazer e nada acontecer. Um tiro ao lado, para não dizer nos pés da RTP e de Portugal, que tinha um diamante em bruto saído do Festival da Canção e que nada fez a seguir para que algo de bom acontecesse depois.



Bom, o artigo de opinião que escrevo hoje, após a depressão pós-ESC, podia ter sido escrito há 5, há 10 ou há 15 anos. Quem pensar que vai ler algo de novo, será melhor então desligar esta página.

Partilho algumas conclusões:

Conclusão 1: O produto “Eurovisão” continua, em Portugal, sem estratégia, sem rumo, sempre fruto do desenrascanço tão lusitano, sem planeamento, sem parcerias, com um deslumbre provinciano. (Nota: escrevi isto em 2013, decidi fazer copy-past pois continua atual, não acham?)

Conclusão 2: Quanto mais jovem, mais pop, mais virado para a era digital e tecnológica se transforma a Eurovisão, mais atrás na tabela classificativa fica Portugal. Isto significa que a Eurovisão acompanha a evolução dos tempos, o tempo onde são os jovens que mais ouvem música e fazem-no através das plataformas digitais, ao contrário da seleção portuguesa para a Eurovisão que vive ainda muito colada a preconceitos e a sons de décadas atrás.

No estúdio da RTP, de onde foi transmitido o Festival da Canção, estiveram presentes representantes de 5 sites estrangeiros, habituados a viajar pelas seleções nacionais de diversos países. Ficaram todos espantados com a faixa etária predominante na audiência: “Onde estão os jovens?”, perguntaram. As baixas audiências televisivas foram ainda mais baixas entre os jovens, o ciclo inverso do que acontece em vários países da Europa.

Conclusão 3: A proposta portuguesa para Viena não foi criativa nem inovadora. Nem a canção, mas sobretudo a performance em palco. É um facto que foi tudo muito bem cantado e executado, ninguém conseguiu dizer verdadeiramente mal do tema, mas terminada a atuação, a retina não reteve nada, pois Portugal não levou nada de novo ao concurso. Colocar os 4 coristas alinhados atrás da cantora num tema que deveria ser rock… foi até despropositado. O que faria um europeu votar na nossa canção se não entendia a mensagem e nada, aos seus olhos, foi diferente e inovador?

Conclusão 4: A participação de Portugal em 2015 teve menos marketing e promoção que muitas das nossas participações dos anos 90. Com a agravante que, nessa data, ainda reinavam os discos de vinil e o youtube ainda era uma miragem. Pois, nessa altura, a RTP organizava festivais da canção abertos a todos os compositores interessados, realizava um videoclip da canção vencedora e distribuía-o por todas as televisões da Europa, fazia primeiras páginas nas revistas, tinha press a acompanhar os festivais da canção e Eurovisão, e lançava comunicados de imprensa que eram, depois, partilhados pelos jornais e revistas da época. Em 2015, nada disto houve! Faltou fazer o que se fazia nos anos 90 e acrescentar o devido update às exigências do século XXI. A chefe de delegação até pode ter muita vontade, mas sozinha não chega lá! Há que haver vontade da direção e administração da RTP e uma equipa conhecedora do produto Eurovisão, trabalhando com tempo e planeamento estratégico.

Conclusão 5: É discutível o upgrade ou o downgrade (dependendo dos gostos) que foi feito à canção “Há um mar que nos separa” depois do FC. O que não se entende é que esse lançamento tenha sido acompanhado de… nada! Se não fossem os sites de fãs ligados à Eurovisão, ninguém saberia desse facto, pois apenas foi publicado um singelo post no site da RTP que, para além dos diversos problemas para fazer download do tema, quem segue a internet pelo iphone ou tablet nem conseguia ouvir a canção. Não houve um pequeno suporte vídeo, simples que fosse, através por exemplo de uma atuação num dos programas de televisão, um suporte em vídeo e áudio de qualidade para promover o tema. O mesmo digo para as versões em inglês e espanhol que não foram acompanhadas de qualquer suporte de comunicação. Todos os vídeos que no youtube foram carregados por fãs - com vontade de ajudar – foram quase de imediato eliminados.

Conclusão 6: Depois do Festival português, o objetivo seria chegar aos ouvidos e aos olhos dos europeus. Contudo, não foi feito um único comunicado, um único texto, um único suporte de comunicação em inglês, nem sequer um microsite integrado no site da RTP que, em língua inglesa pelo menos, promovesse a canção na Europa. Diversos sites estrangeiros recorreram ao ESCPORTUGAL para ter alguma informação, e algumas entrevistas que foram feitas tiveram-nos como intermediários. Ainda não foi desta que foram envolvidas as embaixadas de Portugal na Europa e as associações de emigrantes portugueses – algo que, como é óbvio, vários países fazem.

Ainda falando em promoção: Desde que há semifinais na Eurovisão, os anos dos melhores resultados para Portugal foram alcançados quando os autores do tema português arregaçaram as mangas e promoveram-no per si.

Conclusão 7: Inicialmente anunciada para participar nas festas pré-eurovisivas de Amesterdão e Londres, a jovem portuguesa acabou por não ir. Dado curioso: os 7 países da semifinal 2 que não passaram à final do ESC, foram precisamente aqueles que não participaram no evento de Amesterdão. Coincidência ou não, o certo é que não devemos menosprezar a influência que os fãs do ESC têm no evento e na votação, sobretudo nas semifinais, onde no total se registam poucos votos. Também nos júris há muitos músicos, autores e jornalistas que seguem o evento todo o ano. Quem não aparece, é esquecido!

Conclusão 8: O Festival da Canção continua a viver longe, bem longe do mercado musical português, das editoras e das empresas de espetáculo. Para termos uma ideia, das 40 canções a concurso este ano na Eurovisão, cerca de 30 tinham uma editora a representá-la. A Sony Music detinha os direitos de cinco temas, enquanto a Warner Music de duas, entre as quais a canção vencedora. Enquanto o FC não for realizado em parceria com o mercado, no fundo com o público-alvo, que são as editoras, as empresas de espetáculos e as rádios, andaremos sempre de costas voltadas.

Conclusão 9: Continuo a defender, o que sempre defendi: a organização do FC em conjunto com o mercado musical português, que existe apesar de ser pouco defendido e difundido pela estação pública; a aposta em exclusivo em artistas e bandas de sucesso e com carreira, nem que isso tenha de passar por uma seleção interna; as parcerias entre equipas nacionais e estrangeiras (Building bridges), sem fechar as portas a cantar parte do tema em inglês, se isso facilitar a mensagem; bons mecanismos de promoção e marketing…

Conclusão 10: Urge fazer uma autocrítica por todos os envolvidos na participação de Portugal na Eurovisão. Em primeiro lugar, por todos aqueles que fizeram e fazem habitualmente parte da delegação de Portugal, direção da RTP e também pelos eurofãs acérrimos, para quem a culpa é sempre dos outros, do facto de não termos vizinhos, da semifinal ser muito forte, das comunidades de emigrantes portuguesas já não votarem tanto como antigamente… Há que ser mais humildes e analisar o que aconteceu com perspectiva, critério artístico e objetividade e não nos deixarmos levar por impulsos patrióticos. Só assim se poderá melhorar o “produto” Eurovisão de Portugal!

Os profissionais envolvidos deveriam usar o critério da comparação com as demais candidaturas e fazer uma listinha daquilo que as outras candidaturas tiveram... que a nossa não teve! Seria interessante, oportuno até, envolver nessa avaliação jornalistas, profissionais das editoras e das empresas de espetáculos, portugueses e estrangeiros. E também os artistas que já foram à Eurovisão e sabem, melhor que muitos, o que falhou.

Outro dado: os resultados do inquérito promovido por diversos sites, com vista a aferir a opinião dos portugueses quanto à seleção da canção de Portugal para a Eurovisão, mostram que o público quer mudanças: quer a continuação do histórico Festival da Canção, mas sem recurso a convites, mas sim a candidaturas de todos os interessados, portugueses e estrangeiros; o público quer canções cantadas em inglês, ou então bilingues inglês-português; o público quer abertura de candidaturas aos países falantes de português...

Por: Nelson Costa



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Fonte: ARTIGO DE OPINIÃO DE NELSON COSTA /  Imagem:GOOGLE

19 comentários:

  1. Excelente artigo Nelson. Tocaste nos pontos todos

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  2. Eis o que muitos FANS defendem, ano após ano, mas será que a RTP quer ganhar? Ou faz tudo, a mando de alguém, para que Portugal perca? Portugal / RTP até "ganhava dinheiro" em organizar uma participação para ganhar lá fora: estamos cansados de "participações dignas" e "politicamente corretas" que não alcançam resultados : ) Somos um povo resignado, infelizmente...

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    1. Os fãs ceguinhos e com medo de perder as acreditações, o contactozinho, a fotografia e o autografo, esses acham que está tudo excelente

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  3. Concordo em pleno com tudo o que foi dito !!!!!

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  4. Está muito bom Nelson. Só faltou uma crítica mais explícita à Carla Bugalho. Depois do mau trabalho que fez ainda teve a arrogância para fazer comentários arrogantes na TV. Sc

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  5. infelizmente é uma triste verdade, os jovens nao tem interesse em ver o FC, porque as musicas sao muito antiquadas, musicas que nao agradam os jovens, nao sou de elogiar o melodifestivalen, mas melodifestivalen tem uma alma fresca, tem musicas atuais para os jovens, nao e como o festival da cançao, com musicas super antiquadas dos anos 80...

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  6. Acho que a RTP só se deve preocupar apenas/basicamente em transmitir o Festival da Canção e haver uma parceria com grandes produções portuguesas. A RTP se calhar não vai querer participar na Eurovisão em 2016, mas só tem piada quando Portugal está lá (de preferência bem representado). A RTP é sem dúvida um dos poucos canais decentes que temos, e é revoltante este lado retrógrado da RTP em relação à FC/Eurovisão.
    Fiquei descontente por não haver nenhum canal "oficial" no youtube com as versões todas "Há um mar que nos separa" para não falar do video clip. Ás vezes parece que a RTP só faz os mínimos para passar à final, infelizmente nem isso acontece.

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  7. O ESCPortugal a mostrar ser isento e imaprcial, mais uma vez. gostei particularmente da conclusão 10

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  8. Parabéns pelo seu comentário. Infelizmente duvido que na RTP haja quem o leia... Podemos concordar ou não com o rumo que o ESC tem tomado, mas aparece lá o nome de Portugal e só em muito minúsculas o da RTP, e choca que possamos, enquanto país, estar representados a um nível tão baixo. Como sucede decerto com todos os que visitam este "site", já houve anos em que concordei com a escolha da canção portuguesa e outros em que discordei - e muito até. A verdade, porém, é que nunca me revejo na atitude da estação de televisão, concretamente nos últimos anos. Pode não haver dinheiro para um videoclip sofisticado, mas não haverá para uma gravação em estúdio, com bom som, com uma atuação descontraída do(a) intérprete, porque sem os nervos da participação numa final sujeita a votação? No caso deste ano, sabia-se que haveria imagens de fundo para todas as canções (a menos que delas de imediato se prescindisse): sendo, por decisão da RTP, obrigatório o uso da língua portuguesa, não haveria que aproveitar o som (bastante internacional) da palavra "mar" para se escolher um fundo diferente? Seria difícil proporcionar à intérprete ensaios suficientes para saber enfrentar as câmaras? Poderão não acreditar, mas sei que houve "cameramen" que lhe foram dar uma ajuda em bastidores, após o primeiro ensaio, condoídos com a falta de experiência... A senhora que representou a RTP a nível máximo não compreenderá que é falta de respeito passar o tempo a fazer "selfies" e a mandar mensagens enquanto o espetáculo decorre? Idem para os elementos do coro, incluindo o senhor de barbas que, com o maior desrespeito e falta de profissionalismo, ia tendo atitudes teatrais quando se anunciavam os finalistas? Bastaria ter visto, por exemplo, a atitude profissional e bem-educada da delegação letã, sentada muito perto... O responsável pelos arranjos (não quero fazer um trocadilho, mas realmente não "arranjou" muito...) não conseguiria estar sentado, assistindo ao espetáculo da segunda semifinal de princípio a fim? É assim que se representa um país? Dir-me-ão que a passagem à final não depende de muito do que apontei. Não, realmente não. Mas a atitude primordial deverá passar pelo respeito e pelo profissionalismo e disso viu-se pouco. Desejo felicidades à jovem intérprete, mas receio que seja uma nova Célia Lawson...

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    1. NÃO HOUVE dinheiro para um videoclip, mas HOUVE dinheiro para pagar um comentador extra (para quê dois?) - cachet e viagem... TUDO à custa do CONTRIBUINTE!

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    2. Concordo, especialmente do que referiste sobre a performance e todo o cenário que rodeava. Podia ter muito mais impacto, não deviam ter metido uma cidade como fundo, se a canção só fala de mar, afinal mais parece que é "(há) uma cidade que nos separa", e ficou a parecer uma super-heroína das bandas desenhadas com a junção do seu figurino e a cidade. Mas eu por acaso gostei do efeito da "capa" a ser levada pelo vento, mas nem isso nos ajudou a passar para a final, a RTP podia ter levado alguém consigo que percebesse de performances.

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  9. Não posso estar mais de acordo contigo, Nelson! Bom artigo de opinião :)

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  10. Ao ler este texto, fico a sensação que há tanto, tanto para fazer e não vejo a RTP com capacidade para tal.

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  11. Este texto é um verdadeiro missal. devia ser de leitura obrigatória para todos os que fazem parte da delegação de Portugal em todos os ESC da vida. Obrigada

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  12. A RTP tal como está não funciona, é o espelho do país! Uma vergonha!

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  13. Muito bom artigo! Textos destes deveriam estar nos jornais e em outros meios comunicativos que chegassem à comunidade. Porque é pena, que apenas fãs do esc e pouco mais leiam artigos deste género! Sim porque mil e tal ou mais que sejam os leitores do escportugal, isto não chega aos olhos de uma população de 10 milhões

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  14. O facto de muitos fãs lá fora que gostando da voz da Leonor mas achando a canção completamente monótona sem nada que a tornasse memorável ...ajuda a compreender o resultado na semi final ... que a RTP não se interessa muito por isto mas não o admite para ficar bem na fotografia ja todos sabemos ... mas o sentido de autocrítica passa tb pela capacidade de reconhecer boa ou ma qualidade da canção escolhida despido de patriotismos obscenos ... e quando o feedback é negativo por parte de quem vota (não somos nós) não podemos apenas esperar milagres por parte de quem por si so não se interessa por isto. Não participar em 2016 para mim continua a ser evidente tal como sempre foi em anos anteriores... não temos o perfil que justifique participar num certame cujo universo musical não se encaixa com a cultura musical portuguesa ... seremos sempre o pais do fado, dos sergios godinhos, dos jorges palmas, da musica interventiva , o pais que so quer cantar na sua lingua e chorar a saudade e o passado e do pimba playbackiado ... é isto o que somos ... é isto que temos para oferecer ... conclusão ... queremos mesmo continuar a participar em algo que perdeu o interesse no nosso pais há 20 anos... ou só queremos que PT participe porque somos fãs e seria traumatizante e depressivo não poder ver o nosso pais naquilo de que somos fãs? Afinal isto é para agradar quem ... nós fãs... ou a música? E quase como "quero continuar a ser o menino mimado que se recusa a ser humilde .. e ai da RTP que me impeça de tal coisa" .. as vezes tenho esta imagem assustadora que os fãs se pudessem transformavam tudo isto naquilo que queriam e passam a mandar em tudo e controlar os festivais segundo a sua vontade ... assegurando de que uma pimbalhada qualquer venceria sempre em detrimento da qualidade musical,

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    1. Não concordo com isto: "seremos sempre o pais do fado, dos sergios godinhos, dos jorges palmas, da musica interventiva , o pais que so quer cantar na sua lingua e chorar a saudade e o passado e do pimba playbackiado ... é isto o que somos ... é isto que temos para oferecer "

      Temos muita música pop,e alguma rock, mas com as condições que a RTP oferece (ou não oferece), esses artistas não querem desperdiçar uma canção no FC que, depois, nem no youtube aparece pois a RTP bloqueia (como este ano, em que todas as canções do FC desapareceram do youtube).

      Há bons exemplos, como Monica Ferraz, Moulinex, Rita Redshoes, David Fonseca, Blasted Mechanism, etc, etc, etc.

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