[OPINIÃO] O downgrade sueco


Lembro-me de vibrar com a vitória de Marie N, em 2002. Lembro-me de rogar pragas aos Lordi em 2006, mas 2 meses depois já os adorar. Lembro-me de ficar vidrado com a Helena Paparizou em 2005. E lembro-me de achar a vitória do Dima Bilan a coisa mais pirosa de sempre. Sobretudo, lembro-me de vibrar com a Eurovisão e de sentir aquele fascínio e aquela emoção que apenas nós eurofãs conseguimos descrever.

Um programa de entretenimento desta natureza, conjugando diversos países, diversas culturas, e com tantos anos de história tinha, invariavelmente, de assistir a transformações. Antigamente o ESC era da maneira que tinha de ser. A evolução tecnológica e as mutações sociais e culturais na Europa obrigaram o ESC a mudar. Se tal não tivesse acontecido, este certame já provavelmente estaria moribundo.

São duas as grandes lutas do ESC neste momento: adaptar-se à crise económica e continuar a manter-se relevante do ponto de vista televisivo e musical. É por isso que considero os suecos uns visionários. Em 2000, foram capazes de entender que o ESC precisava de upgrade, de modo a que o concurso ganhasse mais dinamismo e grandiosidade numa Europa em expansão. Atualmente, vemos que o ESC atingiu proporções talvez demasiado megalómanas. Não há necessidade de se gastar rios de dinheiro, como os russos e os azeris fizeram, para que possamos ter um bom espetáculo. Isso é perigoso porque acabou por tornar o ESC num instrumento de propaganda política em países com pseudo-democracias.

Agora que o ESC voltou a ganhar, nos últimos anos, alguma credibilidade e relevância, creio não ser necessário algo com tão grandes dimensões. Em Baku, eu só via os artistas a “nadar” no palco. O palco roubou o protagonismo dos artistas. E é aqui que se vê mais uma vez os suecos a serem uns visionários. A diminuição da dimensão do ESC serve, então, não só o propósito de poupar dinheiro, mas também de voltar a pôr o foco nos artistas e nas canções.


O ESC é um programa de entretenimento. Nos dias de hoje tem necessariamente de ser um programa dinâmico, apelativo e pronto para competir com os infindáveis conteúdos televisivos que existem. Ouvir “Euphoria” ou “Satellite” na rádio é sinal de uma coisa: que o ESC conseguiu adaptar-se e continuar a ser relevante. Um programa com tantos anos não pode só sobreviver com o apoio entusiástico dos eurofãs. Tem necessariamente de conquistar o público que só ouve falar dele uma vez por ano.
Por: André Marques

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