[OPINIÃO] O que fica de 2010: Janeiro - O plágio dos Homens da Luta


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O final de um ano é por excelência um momento de retrospectiva, de olhar para trás, fazer contas à vida e recordar os momentos mais importantes por que passámos, individualmente ou enquanto comunidade.

O ano de 2010, para um eurofã, foi rico em acontecimentos, em polémicas, em momentos marcantes. Não terá sido um ano decisivo, nem sequer definidor. Muitas vezes dividiu-nos, mas sobretudo uniu-nos no nosso desígnio comum e manteve acesa a esperança que partilhamos. Ainda não foi desta, mas já estivemos mais longe.

Pessoalmente, 2010 fica na minha história por ter sido o primeiro Festival da Canção a que assisti ao vivo. E dificilmente poderei esquecer a intensidade com que tudo se desenrolou: os ensaios, as reportagens, as entrevistas, o convívio com os artistas e os outros fãs, as expectativas, o nervosismo, os problemas técnicos, os improvisos, a competição, as polémicas, a frustração, a irracionalidade das claques, o cansaço, a sensação de dever cumprido…

Mas adianto-me. Afinal, como todos os anos, 2010 começou em Janeiro


Os Homens da Luta

2010 começou com a habitual especulação, e posterior revelação, dos artistas concorrentes ao Festival da Canção. Entre velhas glórias e sangue novo, o grande destaque foi para o número humorístico dos Homens da Luta, que desde o primeiro dia lideraram a votação online, para exasperação dos eurofãs mais clássicos.

Os Homens da Luta pretendiam ser irreverentes, revolucionários, uma lufada de ar fresco e fugir ao clássico modelo das canções festivaleiras. Esqueceram-se no entanto de que para fazer uma revolução é preciso conhecer o sistema. Ignoraram o regulamento do concurso e foram desclassificados porque o tema Luta assim não dá já tinha sido apresentado publicamente antes da data regulamentar.

Mas há pior. Caso não tivesse sido decidida a exclusão dos Homens da Luta por incumprimento das datas, muito provavelmente a desclassificação aconteceria por outro motivo bem mais grave: o tema Luta assim não dá é um plágio.

Não sei como é que esta situação escapou ao escrutínio dos produtores e compositores, encarregues pela RTP de seleccionar as canções a concurso, até porque não se trata apenas de dois ou três acordes, mas do refrão inteiro (pelo menos).



A composição plagiada intitula-se Lá no Xepangara e é da autoria de José Afonso, estando integrada no álbum Coro dos Tribunais, editado em 1975. É ouvir e comparar:




Mais dificil de sustentar é a eventual desatenção dos Homens da Luta. Afinal todo o seu conceito é baseado na estética particular dos cantores de intervenção, que tem em Zeca Afonso o seu paradigma. E há uma diferença enorme, abissal, entre a utilização de uma referência inspiradora e a apropriação indevida e não assumida de uma criação alheia, seja em parte, seja no seu todo.

Posteriormente à desqualificação os Homens da Luta ameaçaram voltar a tentar em 2011. Pela minha parte serão bem-vindos. Só espero que desta vez leiam o regulamento com atenção e façam melhor o trabalho de casa. E que apresentem uma canção original, se não for pedir muito.

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