ESC2015: Construindo uma ponte com todos os indivíduos


Normalmente, há um tópico que nada tem a ver com A CANÇÃO que está em destaque no Festival Eurovisão DA CANÇÃO de cada ano. Na edição de 2015 estará em destaque a pessoa com deficiência.


A deficiência estará em destaque na edição deste ano do festival Eurovisão (ESC2015), aliás, já está em destaque há algumas semanas, a partir do momento que tanto a Finlândia como a Polónia e o Reino Unido selecionaram artistas que sofrem a ausência ou a disfunção de uma estrutura psíquica, fisiológica ou anatómica.

Da Finlândia

Na seleção nacional da Finlândia, um grupo cujos elementos sofrem de síndrome de Down e autismo, deu que falar desde o primeiro instante. Os Pertti Kurikan Nimipäivät (PKN) não foram particularmente pontuados pelos diversos jurados, mas comandaram o televoto com 36%, muito acima do artista classificado em 2.º lugar. E assim, ganhou o direito de representar este país nórdico na Eurovisão e muitos já conjeturam que esta poderá vir a ser uma grande surpresa em Viena.

Tudo começou em 2009 durante uma oficina cultural para pessoas com necessidades especiais. Pertti Kurikka, Kari Aalto, Sami Helle e Toni Välitalo criaram uma banda com guitarrista, voz, baixo e bateria, respetivamente. Gostaram tanto da experiência que decidiram começar a fazer versões de outros grupos punk locais e a criar temas originais. O primeiro disco “Ei yhteiskunta yhtä miestä kaipaa” (que o ABC traduziu como “Ninguém é imprescindível na sociedade”) surgiu em 2010 com três versões e três originais. Os temas dos músicos, cheios de energia nas atuações, incidem muitas vezes nas dificuldades que os próprios encontram no dia-a-dia. O punk é para os artistas a forma ideal de expressarem os sentimentos e a raiva, e “dizer as coisas como são”, diz Kari Aalto. “Fazer música é muito divertido. Se não existisse a música, o mundo seria um lugar totalmente estúpido.”

Do Reino Unido

A representante do Reino Unido, Bianca Nicholas, do duo Electro Velvet, sofre de fibrose cística, uma doença hereditária comum, que afeta todo o organismo, causando deficiências progressivas e, frequentemente, levando à morte prematura. As notícias que têm sido publicadas sobre esta cantora, mesmo no Reino Unido, versam mais a sua doença do que propriamente a canção que vai defender em Viena, apesar da sua deficiência não ser visível nas atuações que tem feito e até mesmo no vídeo promocional do tema "Still in Love with You". Aliás, musicalmente, a sua carreira é quase nula: em 2013 chegou a concorrer ao “The Voice UK”, contudo, ficou pelo caminho logo na primeira tentativa, quando nenhum dos mentores virou a cadeira… Os seus concertos têm sido praticamente todos centrados em galas de solidariedade. Será que a audiência televisiva ficará sensível a este facto, ou apenas estará centrado NA CANÇÃO?

Da Polónia

A representante da Polónia, Monika Kuszyńska, é paraplégica. A audiência não dará conta desse facto, a não ser que se apresente em palco numa cadeira de rodas. As redes sociais foram bombardeadas com as mais variadas reações, umas defendendo que Monika deveria apresentar-se em palco numa cadeira de rodas, outras defendendo que cante sentada para não “distrair” o espetadores do mais importante que, supostamente, é A CANÇÃO. Opiniões… cada uma tem a sua! De uma coisa não devemos ter dúvidas: devemos respeitar a sua decisão, seja ela qual for.

Efeito nos resultados?

A escolha destes artistas com deficiência têm sido mais noticiados pelos media do que as canções, os artistas e o espetáculo. As canções serem preteridas por outros fenómenos alegadamente mais mediáticos é algo recorrente, ano após ano.

É graças ao grupo PNK da Finlândia que a Eurovisão consegue ser manchete em todo o mundo, dando a oportunidade para a realidade em que vivem os deficientes ser falada e destacada.

A classificação destes artistas poderá vir a estar dependente da votação massiva de outros cidadãos que, sofrendo destes e de outros problemas, se revejam nestas participações. Votação em massa de grupos específicos e que poderá beneficiar uma das três canções que, alegadamente, tem muito pouco para vingar per si.

Importa fazer, então, algumas questões: um indivíduo com notórias limitações físicas ou intelectuais, terá um talento menor para as artes e, neste caso, para a música? Será que o impacto que estes artistas têm nos media fará com que grupos específicos de outros indivíduos, nas mesmas condições, se sintam elevadamente motivados a votar? Ou, por outro lado, este mediatismo fará outros pensarem que os artistas se vitimizam , e as estações de televisão locais apenas de aproveitam dessa suposta vitimização, para alcançarem um bom resultado na classificação? A Eurovisão, que já foi um encontro de culturas da Europa e que agora é um festival de música pop, será que pode ter um papel de inclusão social ao dar voz e palco a estes indivíduos?

A própria letra da canção dos PNK, por exemplo, não fala dos temas habituais, mas sim sobre a vulgaridade da vida destes indivíduos. Será que esse facto vai “tocar” no coração dos europeus?

Eis um excerto da letra:

Tenho de ficar sempre em casa
Tenho de fazer sempre as minhas tarefas
Tenho de comer sempre corretamente
Não é permitido comer doces ou beber refrigerantes
Nem sequer é permitido beber álcool…


Da minha parte, irei tentar me focar apenas nas canções e nas performances ao vivo. São essas, na minha opinião, as traves mestras do Festival Eurovisão DA CANÇÃO.

Por: Nelson Costa
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Fonte: ARTIGO DE OPINIÃO DE NELSON COSTA /  Imagem: GOOGLE

4 comentários:

  1. Excelente artigo num tópico muito importante. Eu avalio a canção com Gosto ou Não gosto. Não olho para as vidas pessoais. Mas sei que sou uma excepção

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  2. Não sabia que a cantora da Inglaterra tb era deficiente

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  3. A finlandia pode vir a surpreender no televoto. Os europeus poderão votar neles por pena do que da canção.

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  4. Eu não gosto de ver a Eurovisão ser falada por tudo, menos dos artistas e das canções. O ano passado falou-se da Travesti barbuda e não da Eurovisão e este ano fala-se dos deficientes da Finlandia mas poucos ouviram sequer a sua canção. A culpa maior é da propria imprensa e redes sociais que dão mais valor ao insolito e ao bizarro

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