[OPINIÃO] E demissões na RTP, não há?

Portugal voltou a ficar miseravelmente colocado no Festival Eurovisão da Canção. E consequências na organização da representação nacional, haverá? Parece-me óbvio que não, até pelo histórico de desaires e calma eterna por parte da RTP em relação ao certame. Mas devia ser diferente. No desporto é comum que um mau treinador seja facilmente despedido. Não é raro que após consecutivos maus resultados, aconteça a chicotada psicológica. Na RTP1, a mesma equipa dá péssimos resultados, ano após ano, e nada acontece. É o chamado trabalho de sonho.

O início

A seleção da música nacional, feita através do Festival da Canção, dá vergonha alheia. As músicas a concurso este ano eram fracas, todas sem exceção. Umas vezes fracas com possibilidade de recuperação, outras vezes só mesmo desastrosas. Mas a culpa não é, pelo menos não inteiramente, de quem compõe. A RTP organiza, a dois meses do Festival Eurovisão da Canção e convidando os compositores com pouquíssimo tempo de antecedência, o programa para escolher a música portuguesa. Realmente não há muito tempo para fazer um bom trabalho e o que acontece é que os autores das canções, alguns deles com mérito, acabam por levar sobras que não utilizaram nos seus próprios trabalhos ou preparar temas às três pancadas.

A preparação para a Eurovisão

Depois de escolhida a canção que representa Portugal, devia iniciar-se um trabalho de conceção e preparação da atuação no palco europeu. Pois, entre o que devia acontecer e o que acontece vai um longo caminho.

Nos últimos anos, todas as vezes que houve alguma preparação para a atuação na Europa, ela foi da responsabilidade dos intérpretes e compositores e nunca da equipa designada pela RTP. São conhecidos os casos relatados por vários dos elementos das comitivas portuguesas em que fica patente o laxismo da estação pública.

Este ano, foi evidente. Além da mudança de roupa, nada existiu. Não houve qualquer promoção internacional, não houve um bom Eurovision Mix que pudesse reforçar pontos fortes da canção e atenuar pontos fracos (pelo contrário… a versão final da música só a destruiu). Na atuação não houve uma coreografia, uma boa utilização dos recursos do palco ou dos planos de câmara. O que faz toda a diferença, a Suécia que o diga.

A Leonor Andrade é das mais talentosas (e bonitas) representantes portuguesas dos últimos anos e, por mais que diga que esta foi uma das melhores experiências da sua vida, foi absolutamente deixada à sua sorte. E foi assim, completamente sozinha, que ainda conseguiu 19 pontos.

O rescaldo

Após desfiado todo um rosário de tragédias, é tempo de pensar no futuro. E o futuro passa por pessoas diferentes, que percebam que a Eurovisão é uma oportunidade para a música portuguesa. A nossa canção deste ano é uma das mais vendidas atualmente no iTunes da Lituânia e nada foi feito para isso. As músicas do top10 estão todas a subir nos streamings e downloads legais. Nós, enquanto isso, ficamos só a pensar em toda a boa música portuguesa que podia fazer um brilharete lá fora, perante mais de 200 milhões de telespectadores.

É tempo avançar para quem sabe fazer boa música em Portugal, dar-lhe tempo para preparar uma música à altura da ocasião e ajudar a que a magia aconteça. Todos ouvimos música nacional. Muito mais do que ouvíamos há vários anos. E a música portuguesa que ouvimos é muito melhor do que tudo o que temos enviado à Eurovisão. É mau demais que continuemos a ser vistos como um país musicalmente tão fraco. É péssimo que o dinheiro da estação pública sirva para pagar a gente tão incompetente e negligente. Por favor, alguém os demita!

Por: Pedro Miguel Coelho - www.espalhafactos.com


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Fonte: ARTIGO DE OPINIÃO DE PEDRO MIGUEL COELHO /  Imagem: EUROVISION