[OPINIÃO] Festival da Canção – Uma reflexão


Não me é nada fácil escrever sobre o Festival da Canção, especialmente em dia desinspirado, mas lá tivemos mais um ano deste Portugal musical, mais um ano de Festival da Canção, e, lá foi encontrada uma sucessora para a Suzy e o seu “Quero Ser Tua”, composta por Américo Monteiro, mais conhecido por Emanuel. Sucessora muito bonita, de imagem actual que cativa no écran, com um ar como gosto de dizer muito à Charlotte Gainsboug!

Leonor Andrade ganhou a finalíssima com o tema “Há Um Mar Que Nos Separa” da autoria de Miguel Gameiro, uma vitória que me pareceu ser correcta, defendendo uma canção que poderá eventualmente ser a mais adequada de entre todas as concorrentes, para o concurso Eurovisivo, concurso esse que é somente o maior festival de música efectuado em todo o mundo.

E, precisamente porque o Eurovision Song Contest é ainda o maior concurso de música do mundo, será necessário fazer uma profunda reflexão, tentado perceber - mais uma vez – o que se passa no panorama musical português. Não quero “dissecar” neste momento as músicas que concorreram, individualmente, visto que já o fiz no espaço Olhares, aquando das Semi-Finais, e muito menos falar nos resultados da final e finalíssima. À excepção da música votada pelos compositores, tudo o resto não foi surpresa! Na minha opinião, tivemos boas vozes em músicas que pretendiam ser boas, mas que resultaram fracas, desperdiçando talentos individuais (Yola Diniz, Teresa Radamanto e José Freitas) e outras, que na ânsia de agarrar novos estilos, perderam-se no já habitual medíocre que a RTP nos oferece ano após ano. Simone e Adelaide Ferreira regressaram para trazer de volta o prestígio perdido: Simone não falhou e ofereceu-nos o momento mais intimista, mais requintado do concurso, já Adelaide Ferreira perdeu-se no tempo. Confesso também que começo a ficar cansada de títulos como “Lisboa, Lisboa” - Portugal vai do Minho ao Algarve e ainda tem os Açores e a Madeira, por isso senhores compositores é tempo de largar a “chapa três” e partir para outra - ou de letras feitas à medida de alguma falta de tempo, brindando-nos com “Fado em Viena” (como exemplo), letra cliché de alto a baixo, fazendo-me encolher os ombros e abanar a cabeça. O Fado é património imaterial da humanidade e um dos retratos de Portugal, mas tentar enfiar aos outros pelas goelas abaixo que somos muito bons porque temos fado, sendo que na hora da verdade e à pressa para o concurso, sai um fado que não está à altura do próprio Fado? (tanto em melodia e especialmente na letra). Será que não há imaginação para mais? Francamente, nem sei como a RTP aceita ainda este tipo de canções com estes títulos e letras a concurso: é tempo de dizer “já chega”!

Uma vez disseram-me que Portugal é o país com o maior número de músicos registados, atendendo, evidentemente, ao rácio populacional. Não sei se é verdade, mas, se for, temos então um problema gravíssimo no panorama musical. Tanto faz que o Festival da Canção tenha lugar no Campo Pequeno, no Convento do Beato ou num estúdio da RTP: o problema repete-se e o medíocre impera! Lá vem uma ou outra canção que difere um pouco mais pela positiva, mas trata-se simplesmente da excepção que confirma a regra. Como não quero acreditar que não somos dotados para a música (embora intimamente uma pequena voz em surdina me diga que não temos jeito nenhum), penso que partirá da RTP encontrar uma solução que possa resolver o problema a curto prazo, senão seremos sempre o parente pobre do maior concurso de música do mundo. Há nomes que se repetem ao longo dos anos que não transportam nada de novo; existem regras que condicionam, e, aparentemente, tudo é feito num curso espaço de tempo, endereçando convites a compositores. Qual o critério? Evidentemente, em pouco tempo será difícil encontrar uma canção que possa ter “as medidas certas”, mesmo sabendo que não se sabe exactamente quais são “essas medidas certas”, qual é a fórmula mágica. Só sei que, se tudo for feito a tempo e horas, talvez não tenhamos um problema de “Maldito Tempo” enrolado no sistema do nacional chico-espertismo. Poderá igualmente contribuir para que o par perfeito composto pela D. Inspiração e pelo Sr. Talento, finalmente se encontrem à mesma hora, no local certo, conhecendo-se, formando uma bonita relação. E eu, continuo à espera que esses dois se possam encontrar!

Até lá, desejo à equipa da Leonor Andrade e do Miguel Gameiro as maiores felicidades, solicitando-lhes que façam todos os possíveis , que alterem a canção para um formato que seja ainda mais agradável e que a Leonor use a sua voz (que precisa de alguma ginástica) da melhor forma possível. A canção tem uma batida agradável, moderna mas a concorrência é muitíssimo apertada. Ao trabalho Team Portugal, para que não percam o comboio da Final!

Por: Fernanda Ribeiro
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Fonte: ARTIGO DE OPINIÃO DE FERNANDA RIBEIRO /  Imagem: RTP

4 comentários:

  1. Excelente artigo, muito bem escrito. Eu nao diria melhor!!!

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  2. Excelente. Que enviem à RTP em carta registada com aviso de receção.

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  3. Excelente... só faltou abordar o tabu do inglês

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