[Opinião] EuroFlan: Eurovisiologia I




A Astrologia é um grupo de sistemas, tradições e crenças que alega que as posições relativas dos corpos celestes podem influenciar a personalidade, as relações humanas, e outros assuntos mundanos. Um praticante de astrologia é chamado astrólogo. Os cientistas consideram a astrologia uma pseudo-ciência ou superstição, uma vez que esta não dá provas da eficácia dos seus métodos.



A Eurovisiologia é basicamente a mesma coisa mas, em vez de corpos celestes (planetas), tem nas relações entre os países europeus, no âmbito do Festival da Eurovisão, o seu objecto de análise. Já o objectivo é exactamente o mesmo: prever o futuro.

Não há site eurovisivo, digno desse nome, que não tenha, pelo menos, um eurovisiólogo de serviço, especialista na análise histórica das tendências de voto, profundo conhecedor das ciências musicais, voz oracular particularmente sensível aos movimentos de massas (“o povo português prefere…”, “os europeus adoram…”, “os júris votam sempre em”…).

Outra característica dos eurovisiólogos é uma vida social incipiente e aborrecida: não têm nada melhor para fazer do que passar os dias a rever as actuações da Carola ou do Sakis Rouvas, no youtube, e a expressar os seus juízos absolutos e opiniões inquestionáveis pelos fóruns, blogues e caixas de comentários.

O ESC Portugal, como legítimo representante de todo o povo eurovisivo português (para os distraídos: não, ainda não saí do registo irónico), não foge a estas regras e terá neste espaço de opinião um oráculo e um guia para os eurofãs menos convictos ou mais preguiçosos.

Como eurovisiólogo o meu objectivo é apenas um: prever quem vai ganhar o Festival da Eurovisão 2010. Ou, pelo menos, qual o país que tem melhores hipóteses de o conseguir. Ao contrário de anos anteriores, em 2010 não há um vencedor antecipado, pelo que a tarefa é pantanosa.

E como não tenho jeito nenhum para criar suspense, revelo desde já que, de acordo com os meus estudos profundos, o grande vencedor do Festival da Eurovisão 2010 será…

O Azerbaijão!


Foto: Wikipedia

País: Azerbaijão

Língua: A oficial é o azeri, mas a mais utilizada é o inglês macarrónico.

Ascendente: Turquia (12 pontos. Sempre!)

Países compatíveis: Turquia, Rússia e todos os restantes do bloco ex-soviético.

Países opostos: Arménia e Geórgia (vizinhança difícil).

Diáspora: Reza a lenda que tem imensos imigrantes por essa Europa fora, mas a verdade é que a maioria esmagadora está na Rússia (3 milhões), pelo que dificilmente pode dominar o televoto europeu. Quanto muito são os irmãos turcos a votar por eles. Ou então os europeus votam muito, mas têm vergonha de admitir, mesmo sob anonimato, que adoram pimba do Cáucaso.

Previsão para 2010

Dinheiro: Muito! A exploração de petróleo e gás natural garantem ao Azerbaijão uma grande liquidez financeira. Recentemente surgiram insinuações de corrupção, alegando de que o Azerbaijão teria comprado a vitória no ESC. Não me parece credível.

A verdade é que de acordo com os boatos que correm pelo meio o Azerbaijão terá investido qualquer coisa como 1 000 000 € (sim, um milhão de euros!) na produção de Drip Drop e na actuação de Safura. Na equipa de produção e folha de pagamentos estão nomes como Anders Bagge, (um importante produtor sueco, em cujo estúdio gravaram, por exemplo, Lara Fabian, Celine Dion, Enrique Iglesias, Jennifer Lopez ou Madonna), Niklas Flyckt (vencedor de um Grammy pelo tema Toxic, de Britney Spears) e, mais recentemente, JaQuel Knight, (o coreógrafo responsável pelas actuações ao vivo de Beyoncé e Britney Spears, e actual colaborador do programa American Idol).

Poderia ser cínico, e dizer que isto é uma forma de comprar a Eurovisão. E é, mas de uma forma legal e legítima. Mas é sobretudo uma forma de dizer ao mundo que o Azerbaijão quer mesmo muito ganhar.

Por outro lado a UER tem uma enorme dívida para com o Azerbaijão: o cancelamento do Eurovision Dance Contest, que teria lugar em Baku. As expectativas e o entusiasmo dos azeris eram enormes. Não sabemos de que forma a UER propôs compensar aquele país, mas a organização do ESC serviria certamente de consolo e indemnização.

Saúde: O Azerbaijão tem um ranking invejável: participou pela primeira vez em 2008, tendo conseguido um 8º lugar na final, ao que se seguiu um 3º lugar, em 2009. É obra! E a receita é simples: apresentar uma canção orelhuda, ainda que de qualidade e criatividade duvidosas, que apelem ao maior número de pessoas possível. Para conseguir isto é importante baixar a fasquia, procurar o mínimo denominador comum. Mas também é necessário estar muito atento ao que se passa lá fora. Um país que opte por ignorar totalmente a sua identidade cultural e tradição musical, vendendo-se à indústria americanizada da música pré-fabricada, não pode dar-se ao luxo de fazer escolhas aleatórias. Tem que saber escolher os melhores e os que lhe dão maiores garantias de sucesso. O Azerbaijão tem na Rússia (e em Dima Bilan) um bom professor e parece ter a lição bem estudada.

Amor: O Azerbaijão pode não ter uma diáspora significativa, mas se há coisa que não lhe falta é amigos. E estes têm muito amor para dar. A começar pela Turquia, cujos 12 pontos estão garantidos, quer na semi-final quer na final.

Na mesma semi-final estarão também a Lituânia, a Arménia, a Ucrânia e a Geórgia, todos eles membros do bloco ex-soviético. E duvido que a introdução de jurados profissionais venha a fazer qualquer diferença nas manifestações públicas de afecto entre estes países.

Já os eurofãs não parecem particularmente apaixonados por Drip Drop, preferindo as grandes baladonas clássicas ou os hinos schlager e euro-pop. Mas os eurofãs já provaram à exaustão que apenas se conseguem representar a si próprios, por muito a sério que se levem.

Não tenho dúvidas que para a esmagadora maioria dos votantes europeus, completamente alheios a estas tradições, seja muito mais motivadora uma canção que lhes é bastante familiar, porque baseada nos modelos musicais que passam quotidianamente nas rádios e televisões.

Afinal Drip Drop não passa de um mashup (ver Glee) de Molitva (Sérvia 2007) com uma qualquer canção da Rihanna/Christina Aguilera/diva pop do momento, inspirada em Believe (Rússia 2008) e nos seus arranjos Timbaland.

A falta de originalidade, criatividade ou identidade cultural é um fenómeno presente na sociedade ocidental, e a Eurovisão não é alheia a essa tendência. Aliás recompensou estratégias desse calibre sistematicamente, sendo 2008 um dos melhores exemplos. 2010 não deverá ser diferente.

3 comentários:

  1. desculpa, mas a tua previsão falhará certamente ;) xD

    ResponderEliminar
  2. Nao entendo tanta ironia e presunçao. A musica é gira e ela canta bem. Tomara a muitos produtores portugueses conseguirem fazer uma musica assim. Se ganhar nao será injustamente.
    Tiago Carvalho

    ResponderEliminar